Cortejo fúnebre teve bloqueio de ferrovia, de rodovia e protesto contra mortes no campo. Cerca de mil pessoas foram ao enterro
O cortejo fúnebre e o enterro dos líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, na manhã desta quinta-feira, em Marabá, cidade a 440 quilômetros de Belém, foi transformado em um ato público com cerca de mil pessoas pedindo reforma agrária e o fim da violência no campo - milhares de pessoas fecharam uma ferrovia e uma rodovia, no final da madrugada.
O casal foi assassinado na terça-feira pela manhã, em Nova Ipixuna, a 390 quilômetros da capital paraense.
A BR-222 e a Estrada de Ferro Carajás foram interditadas na altura da ponte sobre o rio Tocantins, na cidade de Marabá. Com pneus, faixas, galhos e cruzes representando as mortes no campo, cerca de mil integrantes de movimentos sociais com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Central Únia dos Trabalhadores (CUT), Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Sintraf) protestaram contra os conflitos entre madeireiros e trabalhadores assentados na região, cobraram urgência na reforma agrária e melhores condições de vida para os trabalhadores já assentados.
Caminhada
Após a liberação da rodovia, pelo menos três mil pessoas fizeram uma caminhada de aproximadamente cinco quilômetros até o Cemitério da Folha 29, onde o casal foi enterrado.
Os representantes de movimentos sociais afirmaram que alguns homicídios não são investigados pela polícia da região. “Existem as mortes, mas o Estado nada faz para combater isso. Nem mesmo investiga”, declarou Ivagno Brito, coordenador do MST no Pará. Oficialmente, segundo a Delegacia Especial de combate a Crimes Agrários de Marabá (DECA), de quatro homicídios ocorridos na região em 2011, apenas em um não foi aberto inquérito oficialmente. “Isso não aconteceria se já tivesse sido feita e regularizada a reforma agrária no Pará”, afirmou Brito.
A deputada estadual Bernadete Ten Caten (PT) afirmou que pretende, a partir de segunda-feira, intensificar as discussões sobre a regularização fundiária e proteção às pessoas que vivem na região, na Assembléia Legislativa do Pará. “Eles denunciaram os problemas no campo e foram alvo de retaliações. Isso tem que acabar”, disse.
O representante do Ministério do Meio Ambiente, Roberto Ricardo Vizentin, admitiu que algumas das mortes que ocorreram em Marabá foram fruto da falta de capacidade do Estado de não equacionar, o mais rápido possível, problemas relacionados ao conflito agrário na região. “Isso não vem de hoje, e o Estado tem sua parcela de culpa nisso. Agora, é um problema complexo. Porque você precisa combater toda uma rede e não apenas A ou B”, disse. Segundo ele, está prevista, para esta sexta-feira, uma reunião entre Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República justamente para tentar achar soluções para os conflitos agrários em Marabá.
Segundo o estudo “O Mapa da Violência” 2011, Marabá é a quarta cidade mais violenta do Brasil, com taxa de 125 homicídios para cada 100 mil habitantes, segundo números de 2008. A cidade mais violenta do Brasil também está no Pará e está localizada a 40 quilômetros de Marabá: Itupiranga. Por lá, o índice de violência é de 160 mortes para cada 100 mil habitantes. Em 2008, foram registradas 68 mortes. A cidade tem 42 mil habitantes e também sofre influência da disputa entre madeireiros, carvoeiros e trabalhadores rurais.
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