sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Faleiro participa de evento em Altamira

O deputado estadual Aírton Faleiro prestigiou ontem, 01, a Festa de Fim de Ano promovida pelo Conselho de Bairros e Entidades do Município de Altamira, realizado pelo segundo ano consecutivo.

De acordo com o presidente do Conselho, Dilermando Luiz, o evento é uma forma de homenagear pessoas ligadas ao setor, por meio de diplomação à personalidades que se destacam como ex-presidentes de entidades. Na ocasião foram diplomadas 180 pessoas.

O evento foi realizado na sede da Associação Independente I.

Dividir o Pará: Sim ou não?

Antes de fazer seu comentário, conheça as diferentes abordagens que o site Teoria e Debate publicou sobre o tema.

Leia abaixo as diferentes opiniões

Texto de José Cláudio Arroyo




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Texto de Raimunda Monteiro



Agenda na região do Xingu

Bom dia a todos e a todas!

AGENDA DO DEPUTADO PARA HOJE (por assessoria)

Na região do Xingu em debate plebiscitário.

Manhã - Anapu
Tarde - Pacajá
Noite - Novo Repartimento

Plebiscito: debate na RBA


Fonte: Diario do Pará

No começo do debate realizado nesta quinta-feira (1º) pela RBATV, os destaques foram os presidentes das frentes a favor e contra a criação do Carajás, deputados João Salame e Zenaldo Coutinho. O debate sobre os números do Fundo de Participação dos Estados (FPE) prevaleceu no início, inclusive, com Zenaldo Coutinho e João Salame se acusando mutuamente de propagação de mentiras. No segundo bloco, Joaquim Lira Maia acusou Celso Sabino da frente contra Tapajós de ter um discurso decorado contra a divisão. Mais uma vez a guerra de números prevaleceu nas acusações entre os debatedores. “Desde o tempo do Barata o PIB do Tapajós é o mesmo”, afirmou Maia.

Porém, Celso Sabino acusou as frentes do sim de só levarem em consideração os estudos do economista contratado por eles e de ignorar os dados que apontam a inviabilidade da criação de novos Estados.

Em seguida, Zenaldo Coutinho se refere à divisão como esquartejamento do Pará e os representantes das frentes do sim usam sucessivas comparações com a criação dos Estados Tocantins e Mato Grosso do Sul, criados, a partir da divisão do Mato Grosso e Goiás.

BASE

João Salame foi o mais enfático no discurso, inclusive, criticando a administração estadual, mesmo sendo aliado e integrante da base governista na Assembleia Legislativa. “Isso é uma vergonha o Estado não ter dinheiro pra pagar o piso salarial dos professores”, criticou e disse que a criação de novos Estados é a solução pra desenvolver os três Estados: Pará, Carajás e Tapajós.

“Não estamos preocupados com tamanho do Pará, estou preocupado com o tamanho dos problemas do Pará”, respondeu Lira Maia aos questionamentos de Celso Sabino. “Eles querem reduzir o Pará a 17% do seu território, tramado por meia dúzia de políticos”, rebateu Sabino. Porém, Maia disse que o discurso dos altos custos da máquina pública dos contrários à divisão é falácia e garantiu que no início do Estado do Tapajós a administração será feita em acampamentos.

O quarto bloco não diferiu dos três primeiros, com ambas as frentes repetindo as mesmas propostas à exaustão. Enquanto as frentes contra a divisão questionavam a toda hora de onde os separatistas tirariam recursos para viabilizar economicamente os Estados; os favoráveis à divisão acusavam os contrários à divisão de não apresentarem propostas concretas para resolver os graves problemas sociais e econômicos do Estado.

SANTARÉM

Sabino afirmou que o povo de Santarém devia estar “achando graça” de Maia. “O que o senhor, que já foi deputado e prefeito fez para melhorar a qualidade de vida do povo de Santarém? Como agora vem querer resolver todos os problemas do povo do Pará?. Na sua réplica, Maia disse que o que estava em debate não era Santarém. Segundo o santareno, “o que o povo quer saber são das propostas do não”. Na tréplica, Sabino afirmou que Maia estava agindo de má fé ao não apontar as fontes de recursos para financiar os novos Estados.

João Salame indagou a Zenaldo Coutinho que propostas tinha para resolver o déficit de policiais no Pará, apresentando a relação policial/habitante em cada município. Coutinho retrucou afirmando que a proposta do sim era “indecente” e que só beneficiaria alguns políticos e empresários, citando ainda a luta pela aprovação da taxa de R$ 6 nos minérios, a mudança da Lei Kandir e a união do povo paraense como propostas para ajudar o Pará.

Na réplica, Salame afirmou que quando a Lei Kandir foi aprovada Fernando Henrique Cardoso era presidente, Almir Gabriel governador e Zenaldo presidente da AL. “Aqui no Pará todos se calaram. Tudo enganação”. Na tréplica Coutinho repetiu todas as propostas anteriores e deixou claro que nunca foi a favor da Lei Kandir.

LINHA

Na sua vez de perguntar, Sabino indagou Maia sobre a linha agressiva dos programas do sim, que colocam o Pará como o pior lugar para se morar e mostravam paraenses sendo estapeados. Lira Maia afirmou que falar a verdade não é desrespeito. “Precisamos ser ousados e criar novos estados para ajudar a resolver os problemas que hoje existem”. Na tréplica Sabino citou o fato dos autores intelectuais do plebiscito serem senadores de outros Estados que respondem a processos no STF. Lira Maia treplicou reafirmando que o não dissemina o medo e não tem propostas.

Em seguida Coutinho indagou a Salame sobre o que achava de Simão Jatene. O deputado disse que sua questão com o governador não era pessoal e que respeitava Jatene, que considerou um homem de qualidades. “Infelizmente nesse plebiscito o governador se posicionou muito mal. Minha relação é de aliado do governo e não de submissão. Não sou puxa-saco”. Na réplica Coutinho disse estar feliz por Salame ter desmentido o teor do programa de TV apresentado na véspera e reconhecido as qualidades do governador. “O marqueteiro vai embora e nós vamos continuar aqui, continuando a construir o Pará”. Ao treplicar, Salame acusou Zenaldo de ter se calado contra a Lei Kandir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas considerações finais, os representantes de cada uma das frentes acharam ter dado seu recado e esclarecido o eleitor. “Se o Pará for dividido, só quem tem a perder é o povo, que deve lutar contra essa proposta absurda de dividir o Pará”, destacou Celso Sabino. Zenaldo Coutinho disse que todos acompanharam “as propostas falsas e indecentes” dos separatistas que “querem deixar um parazinho para nós”. Coutinho também citou o fato de João Salame ter elogiado o governador “pois foi sempre governo”.

Lira Maia disse representar o desejo do povo tapajônico que há mais de 150 anos luta pela sua emancipação. “Mais de 90% dos santarenos sequer conhece a capital e nossa proposta é para ajudar os pobres e dar mais oportunidade aos governantes para investir nos novos Estados”. João Salame criticou o fato do Não fazer “terrorismo” sem apresentar propostas para melhorar a saúde, educação e segurança. “Você que deu uma oportunidade ao Lula, dê uma oportunidade ao Sim. Tenha coragem e não vai se arrepender”, surpreendeu o deputado do PPS, que faz oposição ao governo Dilma.

Duelo de jingles e bandeiras

Dois grandes trios elétricos animaram os partidários do sim e do não que assistiram ao debate na avenida Almirante Barroso, em frente ao prédio do grupo RBA. Vestidos a caráter, com as cores do sim (verde e amarelo) e do não (vermelho e branco) e portando cartazes e bandeiras, eles travaram uma verdadeira batalha de jingles e bandeiradas. Os candidatos foram recebidos com muitos aplausos.

A metade da pista direita da Almirante Barroso, no sentido São Brás/Entroncamento ficou interditada. A chuva atrapalhou, mas não tirou o ânimo dos militantes, que assistiram a tudo por meio de dois grandes telões instalados na frente e ao lado do prédio, onde os grupos ficaram concentrados.


A cada manifestação dos representantes das frentes contra ou a favor dos estado de Carajás e Tapajós, eles eram aplaudidos ou vaiados. Nos intervalos do debate os ânimos se acirravam, mas a presença da polícia e a turma do deixa disso evitaram qualquer atrito entre os dois lados.

No final do debate, não houve maiores manifestação na saída dos representantes das frentes. O povo gostou.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Luz para Todos no Assurini é real

Você já se imaginou sem energia elétrica? Quantos de nós reclamamos quando falta por algumas horas a eletricidade para assistirmos televisão ou desfrutarmos de algum eletrodoméstico?

Pois bem, existem pessoas que há mais de 10 anos aguardam pela chegada de luz às suas residências. São famílias inteiras que esperavam ansiosas fazer parte do grupo de pessoas que pode tomar água gelada da geladeira ou conservar um alimento.

O programa Luz Para Todos, do Governo Federal, retornou à região da Transamazônica e Xingu depois de quase dois anos de paralisação. Muitos ainda desconfiam se realmente isso vai acontecer. Outros não escondiam o desejo de ter eletricidade em casa.

Pessoas choravam de alegria. Elas aguardavam ansiosas pela retomada de um projeto do governo federal que atendesse a zona rural de Altamira. A retomada das obras renovou a esperança.

Durante o lançamento do Luz Para Todos, famílias conheceram um pouco mais sobre o programa. O coordenador nacional do projeto, Aurélio Pavão, esteve presente no evento. Ele garantiu o cumprimento do benefício.

O diretor da concessionária responsável pelo programa no Pará, Álvaro Bressan, explicou porque começar com o Assurini, cruzando o Rio Xingu. Segundo ele, será um desafio colocar torres no rio.

Segundo Bressan, no Pará já foram mais de 320 mil famílias beneficiadas. Nesta nova fase, mais de 20 mil ligações serão feitas, desde que se tenha acesso rodoviário.

A conquista para os moradores da zona rural acontece depois do Acampamento Xingu 2011, promovido para celebrar 20 anos de movimentos populares na transamazônica e reivindicar políticas públicas para a região.

João Batista, coordenador da Fundação Viver Produzir e Preservar, (FVPP), se disse emocionado por ver melhorias acontecendo.

O deputado Airton Faleiro afirmou que esse é um dos melhores programas criados pelo governo Lula e continuado pela presidenta Dilma. Um dos maiores projetos de eletrificação do mundo.

Fonte: Edvaldo Leite (repórter Sistema de Comunicação Santa Teresinha, Altamira, Pará)

Canta Tapajós hoje

JN no Ar mostra a região do Tapajós para o Brasil

Edição de hoje do jornal Amazônia

Santarém foi a segunda cidade a receber, ontem, a equipe da série JN no Ar, do "Jornal Nacional", que faz reportagens sobre o plebiscito de 11 de dezembro, no qual a população será consultada sobre a proposta de divisão do Pará em três, com a criação do Tapajós e do Carajás. A repórter Cristina Serra, que é paraense, disse que se candidatou a vir ao Pará porque conhece a realidade do Estado. Na matéria ela ressaltou a beleza natural da região do Tapajós, com paisagens exuberantes e belas, mas também destacou a carência de infraestrutura e de assistência em saúde para a população. O JN no Ar esteve anteontem em Marabá e hoje está em Belém para finalizar a série de reportagens. A reportagem sobre a capital será veiculada no JN desta quinta-feira.

Em Santarém, a equipe do JN no Ar foi recebida por manifestantes pró-criação do Tapajós. Na tarde de ontem também foi realizada uma passeata pelo novo Estado. Se criado, o Tapajós teria mais da metade da área do atual Pará, com 27 municípios, 1,2 milhão de habitantes e 15% da população atual do Pará. O PIB da região seria de quase R$ 6,5 bilhões, 11% do PIB do Pará.

TV - O deputado estadual João Salame (PPS), da Frente Pró-Carajás, foi entrevistado ontem no Jornal Liberal 2ª Edição, da TV Liberal. De acordo com o deputado, faz 25 anos que o Pará explora e exporta minério, mas a falta de gestão faz com que o Estado esteja no fundo do poço, sem dinheiro e sem infraestrutura das regiões de Carajás e Tapajós, cujas populações se sentem abandonadas. Ele acusou as frentes que são contra a divisão do Pará de mentir para a população, ora dizendo que o Estado é rico, ora dizendo que é pobre demais e que só unido poderá retomar o crescimento.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ARTIGO SOBRE A CRIAÇÃO DE NOVOS ESTADOS ELABORADO PELA DOUTORA RAIMUNDA MONTEIRO, PARA A REVISTA TEORIA E DEBATE.

Carajás e Tapajós: emancipação para oficializar uma divisão de fato
Raimunda Monteiro[1]

A inspiração deste texto vem de uma frase de Lia Osório Machado[2]que recordo ao pensar como culturas expansivasdesbravam os espaços, resultando em novasconstruções territoriais: “as delimitações administrativas são decisões dos Estados, mas as fronteiras são obras dos povos”.

A reflexão sobre a divisão territorial do Pará vem de uma condição privilegiada de ter vivido o início da minha adolescência em Marabá (PA), antes da chegada da Transamazônica, tendo visto as transformações ocorridas no Sul e Sudeste do Pará (que hoje pleiteia se tornar Estado de Carajás) em seu doloroso processo de integração à economia nacional.
Ter vivido em Goiânia (GO),em meados da década de 1970, quando trabalhadores goianos (muitos desgarrados das atividades camponesas por essa época), lotavam ônibus para os garimpos de Redenção (PA) e para as primeiras fazendas no Sul do Pará e que por lá ficaram. Ter morado em Belém durante a maior parte da minha vida adulta e assistido à expansão urbanana periferia, ocupada também portrabalhadores egressos de Carajás, Tucuruí e Serra Pelada.
Nascida em Santarém, morei também no Maranhão quando aquele estado exportava trabalhadores para a Amazônia, deixando uma sociedade empobrecida pelos latifúndios. EmBrasília, pude presenciar a arrogância da tecnocracia com as regiões periféricase, tendo retornado ao Oeste do Pará, me deparei com a veemência da luta pela autonomia.
Vi de perto asáreas de colonização nas rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá, que cortam o Centro-Sul do Estado do Pará, por cerca de 1.000 km no sentido Leste-Oeste e quase a mesma extensão no sentido Sul-Norte, respectivamente.

São mais de 50 anos de transformações profundas ocorridas no vasto território paraense, de 1.247.689,515 km², que se converteu, no final do século passado, num espaço de oportunidades para o crescimento econômico das regiões mais ricas do país e de economias globais.
Julgar as razões da emancipação exige uma reflexão que uma campanha não irá suprir. Que projetos estão presentes e podem emergir nesse conflito velado há tanto tempo e revelado pelo plebiscito que acontecerá em 11 de dezembro? São legítimos os pleitos de Carajás e Tapajósem defender a sua emancipação, assim comoa paixão da regiãoda capital que se vê afrontada com o fato de que mais de 70% de seu território é habitado por paraenses que não se vêm representados pela sua capital.
O Pará se defrontacom um dos momentos mais dramáticose inevitáveis de sua história e da história econômica, social e cultural do Brasil. Além dos paraenses originários,serão os brasileiros de todo o país, acolhidos e com direito de voto no Pará, que indicarão seu destino.
Breves notas sobre a relação do Pará com o Brasil Os primeiros paraenses foram os indígenas[3], africanos e seus descendentes, portugueses, judeus, árabes e migrantes nordestinos atraídos pelas economias extrativas. Antes das estradas, os paraenses viviam nas cidades e no interior do estado, com acesso exclusivo pelas vias fluviais.Descendiam de relações econômicas e sociais herdadas dos séculos XVIII e XIX, quando a miscigenação foi acrescida pela presençanordestina, na economia da borracha. Belém e Manaus foram as capitais para onde afluíam as relações mercantis e os serviços de educação e trabalho especializados.

O Pará atual resultado projeto desenvolvimentistaplanejado a revelia e pactuado com as elites políticas da capital, ignorando a população originária e a do interior e, mais tarde, também os migrantes atraídos pelas oportunidades difundidas pela propaganda estatal. A integração nacional proporcionou melhorias para os setores das classes ricas e médias urbanas. Mas a maioria, inclusive da que chegava, ficou à margem da prosperidade.

O Pará foi um dos estados que mais sofreu o impacto de ocupações espontâneasede colonizações estatais e privadas resultantes da concentração agrária da parte industrializada e do nordeste do país.Nos anos 1970 e 1980 o Estado se tornou fornecedor de energia, matérias-primas minerais e florestais e espaço de acomodação da pecuária de Goiás, de Minas Gerais e de São Paulo. Dessa forma, o Pará contribuiu para o crescimento do PIB nacional com base numa ocupação predatória dos seus recursos naturais; de assassinatos de trabalhadores, religiosos e de políticos progressistas; da invasão e desestruturação de povos e terras indígenasque tornaram o Estado joqscxcegsíntese dos conflitos da sociedade nacional.

Como todos os estados da Amazônia, o Pará teve seus espaços reconfiguradose resignificadosculturalmente no final do século passado, num contexto de disputas por recursos naturais e territórios habitados tradicionalmente por populações oriundas de ocupações antigas.
A maioria dos migrantes, mesmo os estabelecidos há 60 anos, podem se sentir territorialmente paraenses, mas não integrados a um único Estado. Permanecem divididos entre seus Estados de origem e um futuro, para eles, instável no Estado que lhes abrigou. Goiânia, Belo Horizonte,São Paulo e Rio de Janeirosão as principais capitais para onde escoam os lucros gerados com a pecuária, a madeira, a agricultura e a mineração do Sul e Sudeste do Pará, mas também as poupanças das classes menos capitalizadas. Teresina, Goiânia e São Luis são procuradas para aassistência médica.

A partir da década de 2000, a integração entre o Pará e o país foifortalecida,com o asfaltamento da Transamazônica e Santarém-Cuiabá; as Eclusas de Tucuruí; a criação da ALPA (Aços Laminados do Pará)[4]; a multiplicação de Institutos Federais de Educação; a criação duas universidade federais (Santarém e Marabá); e as instituições federais antes subordinadas a Belém (INCRA, IBAMA, ICMBIO, entre outros).
As redes de relações econômicas e de cidades estabelecidas e, agora as conectividades viárias e o fortalecimento das instituições não consolidaram os laços com Belém, mas sim com os centros dinâmicos que historicamente presidiram as relações entre essas regiões e as capitais “naturais” que elegeram. Marabá e Santarém estão localizadas cerca de 800 km mais próximas do Centro-Sul do que a capital paraense.

Ocaso do Tapajós
O interesse pela emancipação do hoje pretendido Estado do Tapajós remonta o século XIX, num contexto de desintegração do governo colonial e do Grão-Pará e Maranhão[5]. Situada no centro da Amazônia e com acesso mais difícil, essa região preservou ambientes naturais, populações originárias e economias de base mercantil, mesmo coma presença ascendente de enclaves mineradores.[6]

As relações econômicas, os vínculos de trabalho, familiares e culturais se consolidaram muito mais com Manaus do que com Belém. A ZFM – Zona Franca de Manaus se constituiu na principal empregadora da força de trabalho (primeiro não qualificados, atualmente, também especializada) do Baixo-Amazonas e Tapajós. A capital do Amazonas é a maior catalisadora da dinâmica socioeconômica dos rios na fronteira entre os dois estados.
Embora subjacente ao modelo de desenvolvimento, a maior investida da economia madeireirae do agronegócio, se manifestou mais agressivamente nas décadas de 1990\2000. Porém, o ordenamento territorial realizado nos governos Lula, com grande empenho da ex-Ministra Marina Silva, permitiu a contenção da especulação das florestas públicas e criou canais institucionais para o debate do asfaltamento da BR-163[7].

Nessa região estão presentes as maiores TI-Terras Indígenas e o maior número de UCs-Unidades de Conservação federais. Mesmo sob pressão, como ocorre em todas as áreas preservadas do país, o ambiente institucional do presente[8] contribui para manter o que foi conservadohistoricamente pela sociedade local. O novo Estado será favorecido por um ambiente de governança superior ao que ocorreria se a emancipação ocorresse dez anos atrás. Os conflitos e as ameaças de degradação ambiental são problema de gestão, quecontinuará compartilhado com o governo federal.
Embora situada no centro da Amazônia, a localização geográfica dessa região apresenta conectividades com o Centro-Sul do país pela BR-163, com a Amazônia Ocidental, os países fronteiriçosdo Pacífico, pela Rodovia Transamazônica ecom os portos da Europa e Leste dos EUA, pelo porto de Santarém. A região é estratégica nas relações comerciais com Belém, Altamira, Marabá, Macapá, Porto Velho eManaus.

Três formas de ser paraenses
Faz parte doethos da sociedade dominante na região de Carajás, considerar o Pará antigo, distante do ritmo de progresso e de consumo já alcançado em seus estados de origem. Esse ethos é retroalimentado por laços de família que subsistiram.
Mas, dessa sociedade também fazem parte povos indígenas, ribeirinhos, extrativistas, populações urbanas, camponeses e intelectuais ativos na disputa de projeto de desenvolvimento. Nessa região houve a maior reconquista da terra ocupada por grandes fazendas, a partir da luta camponesa, com o maior número de projetos de assentamento de reforma agrária do país.
Noethos da sociedade que pleiteia o estado do Tapajós, é forte a idéia de uma identidade local e regional arraigada historicamente, com fortes laços internos na sua formação social, na sua economia e na sua organização social. A visão de desenvolvimento na sociedade mais antiga passa, em grande medida,pelo conhecimento, pelo progresso cultural e por uma economia em bases diversificadas.

Mais recentemente, ganhou força entre os setores políticos conservadores, a visão redentorista do agronegócio. Mas, também emerge a visão de desenvolvimento sustentável como cenário futuro, justamente pela oportunidade da região deter maisde 80% de sua cobertura florestalpreservada e uma das maiores diversidades étnicas e sociais da Amazônia.Essa característica determinou uma forma menos passiva da sociedade civil da região,diante do avanço da produção de grãos, que foi contida.
No norte do Estado, hegemonizado pela capital, se destaca a visão autocentrada da condição de metrópole comercial, intelectual, cultural e política. Dessa posição, Belémnão se deu conta de que o projeto nacional que interviu no interior do seu território, criou forças econômicas, sociais, culturais, políticas e intelectuais com voz própria.

Com a emergência de novos atores, a elitedo norte do Estado recompôs suas alianças de poder com as lideranças políticas do Sul e do Oeste do Estado (essas mais antigas). Porém, essas alianças não impediram a fratura política entre as próprias elitessobre a autonomia dos territórios. Odesejo de emancipação está acima de pactos conjunturais de poder, foge ao domínio das elites, das esquerdas e dos grupos conservadores. Os partidos de esquerda e osconservadores da capital, no governo, trabalham para neutralizar a divisão territorial.
O Pará cruzou o século XX aprofundando uma divisão territorialde fato, gestadaspelo projeto nacional e por relações de dominação estabelecidas com as regiões tradicionalmente habitadas. A capital do Pará não conseguiu em mais de cem anos, neutralizar nem a vontade emancipacionista do Tapajós e nem a inevitávelvontade de autonomia das forças migratórias mais recentes.
Questões que mobilizam odebate na campanha
Este texto não entra na guerra dos números, pois se considera de antemão que, os três Estados são viáveis e têm condições e vantagens comparativas superiores, em relação a outras situações de emancipação já ocorridas no Brasil. Os custosda implementação dos novos estados devem ser considerados como repartição de benefícios federativos, tendo em vista a contribuição do Pará para o crescimento de outros estados, inclusive por força da Lei Kandir.

O discurso anti-emancipacionistanão apresenta nenhuma utopia ou promessa capaz de mobilizar os anseios dos seus 7,5 milhões de habitantes. Não se visualiza uma alteração no grave quadro socioeconômico e nem a partilha maisjusta de benefícios entre a metrópole e as regiões que desejam emancipar-se.
Existem defensores da divisão em todos os partidos. Não existem blocosideológico -programáticosem torno do SIM ou do NÃO. Assim como, o equilíbrio na composição de forças entre visões progressistas, oligárquicas e neoliberais está presente nos três territórios, em conflitos e acomodações iguais ao que acontece em todos os estados brasileiros.
A população do Tapajós e do Carajás teme que, sem a emancipação, os investimentos permaneçam favorecendo a região hegemonizada pela atual capital, detentora do maior número de eleitores, com poder de voto e de veto na partilha das políticas públicas e do orçamento comum do Estado[9].

Previsões sobre o risco de se criar estados pobres não se sustentam, assim como as avaliações que reduzem o potencial econômico de um futuro Estado de Carajás aos estoques minerais. Pesca, aquicultura, pecuária[10], agricultura, castanha-do-Brasil, energia hidrelétrica e reflorestamento estão entre as atividades para um desenvolvimentointeligente e duradouro no novo estado.
No caso do Tapajós, por ser composto de cerca de 80% de florestas, alguns dizem que teria sua economia engessada e outros afirmam que as florestas seriam destruídas. Como em todo lugar, essas forças estarão concorrendo, mas há que se valorizar o esforço das populações locais, que conservou esses ativos diante da pressão externa.
A riqueza florestal representa uma oportunidade. No Acre, há quase vinte anos de projeto econômico com floresta em pé, emergem indústrias em parcerias público-privadas e comunitárias promissoras e inclusivas. Florestas e biodiversidadesãoum capital valorizado pelo emergentemercado de carbono e futuras economias verdes, assim como valor nos modos de vida das populações tradicionais e indígenas.Uma base industrial centrada na biotecnologia no centro da Amazônia é perfeitamente compatível com a modernização de sua produção agropecuária, que está preparada para elevar produtividade em bases sustentáveis.
A incorporação produtiva das imensas áreas de várzea da calha do rioAmazonas à produção de alimentos é um trunfo econômico para o novo Estado. Assim como, os recursos aquáticos diversificados, com práticas de manejo reconhecidas.
O estado do Tapajós pode nascer com um diferencial muito positivo para o Brasil. Vir a ser o grande laboratório nacional do desenvolvimento sustentável, com a ampliação dos centros de pesquisa, de produção de conhecimento e informação, um Polo Industrial de Biotecnologias, assim como um polo turístico amazônico de fácil acesso. Não faltam utopias e este é um grande passo para que os novos estados nasçam antenados com as oportunidades próprias do nosso tempo. Uma marca invejável para territórios emergentes no século XXI.
Conclusões
Não existe um só Pará, há pelo menos, 60 anos.Os paraenses se aceitam e se negam nas suas ambições territoriais. Uma nova delimitação administrativa para essas territorialidades poderia consolidar projetos regionais mais adequados às expectativas de seus habitantes.
No dia 11 de dezembro, próximo, teremos a primeira consulta democráticasobre a divisão territorial de um Estado brasileiro. Independente do resultado, o plebiscito possibilitou a visibilidade e a oficialização do desejo de emancipação e, por sua vez, aprofunda o sentimento emancipacionista. A continuidade dessa relação por meio de uma união forçada poderá se complicar. A divisão territorial do Pará parece irreversível ao longo do tempo.

Anexos I

Terras Indígenas no Pará

Nome da Terra

Grupo Indígena

Município

Andira-Marau

Satere-Mawe

Itaituba, Aveiro/PA

Alto Rioz Guama

Tembe, Urubu-Kaapor,Timbira e Guaja

Paragominas, Nova Esperanca do Piria e Sta Lucia do Para

Amanaye

Amanaye

Goianesia do Para

Anambe

Anambe

Moju

Apyterewa

Parakana

Altamira e Sao Felix do Xingu

Arara

Arara

Medicilandia, Brasil Novo e Uruara

AraweteIgarape Ipixuna

Arawete

Altamira,Sen. Jose Porfirio e São Felix do Xingu

Badjonkore

Kayapo

Cumaru do Norte -Sao Felix do Xingu

Bau

Menkranotire

Altamira

Cachoeira Seca

Arara

Altamira, Uruara e Ruropolis

Karaja Santana do Araguaia

Karaja

Santa Maria das Barreiras

Kararao

Kararao

Altamira

Kayabi

Kayaby, Apiaka e Munduruku

Jacareacanga(PA) e Apiacas (MT)

Kayapo

Kayapo

Sao Felix do Xingu, Ourilandia do Norte, Cumuru do Norte e Tucuma

Koatinemo

Assurini

Senador Jose Porfirio e Altamira

Las Casas

Kayapo

Redencao

Mae Maria

Gaviao

Bom Jesus do Tocantins

Maranduba

Karaja

Santana do Araguaia

Menkragnoti

Menkragnoti

Altamira, Sao Felix do Xingu, Peixoto de Azevedo e Matupa

Munduruku

Munduruku

Jacareacanga

Nhamunda/Mapuera

WaiWai e Hixkaryana

Nhamunda, Faro e Oriximina

Nova Jacunda

Guarani MBya

Jacunda

Pacaja

Asurini

Portel

Panara

Panara

Guaranta do Norte e Altamira

Paquicamba

Juruna

Vitoria do xingu

Parakana

Parakana

Itupiranga e Novo Repartimento

Parque do Tumucumaque

Apalai e Wayana

Almeirim, Oriximina, Obidos e Alenquer (PA)

PimentalSaoLuis

Munduruku

Itaituba e Trairao

Praia do Indio

Munduruku

Itaituba

Praia do Mangue

Munduruku

Itaituba

Rio Curua

Curuaya

Altamira

Rio ParuDEste

Apalai e Wayana

Monte Alegre, Almeirim e Alenquer

Sai-Cinza

Munduruku

Jacareacanga

Sororo

Aikewar

Brejo Grande do Araguaia

Tembe

Tembe

Tome-Acu

Trincheira Bacaja

Xikrim, Arawete, Apyterewa e Assurini

Senador Jose Porfirio, Pacaja e Sao Felix do Xingu

Trocara

Assurini

Tucurui

Trombetas Mapuera

Wai-Wai e Karafawyna

Faro

Ture/Mariquita

Tembe

Tome-Acu

Ture/Mariquita II

Tembe

Tome-Acu

Xikrin do Rio Catete

Xikrin

Paraupebas e Agua Azul do Norte

Xipaya

Xipaia e Kuruaya

Altamira

Zo'e

Zo'e

Obidos e Alenquer

Fonte: Portal do Cidadão.

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[1]Graduada em Comunicação, Mestre em Planejamento de Desenvolvimento e Doutora em Ciências Socioambientais do Trópico Úmido, Professora da UFOPA – Universidade Federal do Oeste do Pará.
[2]Doutora em Geografia pela Universidad de Barcelona (1989). Professora Associada da Universidade Federal do RIo de Janeiro e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Coordena o Grupo RETIS na UFRJ, do qual participam doutores, mestres, mestrandos e bolsistas de iniciação científica com pesquisas nos temas de Amazônia sul-americana; Limites e Fronteiras na América do Sul (Fonte: CNPQ).
[3]Os indígenas ainda ocupam 21% do território paraense.
[4]A Alpa é vinculada a Vale, com investimentos de R$ 5,8 bilhões, previsão de 16 mil empregos na implantação e, após, 5.300 empregos diretos e outros 16 mil indiretos.
[5] Sobre esse histórico verManuel Dutra, Regionalismo e discurso separatista no Pará: o movimento pela criação do Estado do Tapajós, tese de Mestrado, 1997.
[6] Como a Província Aurífera do Tapajós e a mineração de bauxita em Oriximiná e, mais recentemente, em Juruti.
[7] O Plano BR-163 Sustentável[7] e o ZEE-Zoneamento Econômico e Ecológicoservem para orientar o uso da terra e os novos planos de ocupação territorial.
[8]Conforme a Lei do SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. O ZEE- Zoneamento Econômico e Ecológico já delimitou em lei as áreas que podem ser utilizadas para fins agropecuários e, ainda com a Lei 11.284\2006 que regula o acesso às florestas públicas, o uso das florestas é feito sob controle social.
[9]O atual governoapresentou à Assembléia Legislativa do Pará, um Plano Plurianual 2012-2015 que destina para investimento R$ 18,7 bilhões para os cinco municípios da Região Metropolitana de Belém e apenas R$ 16, 3 bilhões para os 139 municípios do Estado, que representam 70% do território do Pará. Entre esses, estão os municípios que contribuem decisivamentepara o PIB do Estado.
[10] São Félix do Xingu é o atual maior produtor de gado bovino do país.