Os  corpos do deputado estadual Alessandro Novelino (PMN) e de seu  assessor, José Augusto dos Santos, foram sepultados por volta das 10h30  de ontem, no cemitério Recanto da Saudade, em Ananindeua. Antes, eles  haviam sido velados na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, de onde  saíram no carro do Corpo de Bombeiros. Parentes e amigos acompanharam o  cortejo até o cemitério, prestando as últimas homenagens aos dois, que  morreram durante o acidente aéreo ocorrido no último sábado, no  município de Acará.  Várias  autoridades passaram pela Assembleia, entre elas o vice-governador  Helenilson Pontes e o presidente da Casa Manoel Pioneiro, que também  seguiu até o cemitério para se despedir do colega de parlamento. No  Recanto da Saudade, o corpo de Alessandro foi sepultado ao lado dos  irmãos dele, Ubiraci e Uraquitan Novelino. O pai dos três, Ubiratan  Novelino, ao chegar ao local, beijou a mão e, em seguida, tocou na foto  que estava na sepultura dos outros dois filhos, brutalmente assassinados  em 2007. "Com fé em Deus", disse o pai sobre como tem feito para  suportar mais esta perda. 
 Uma  das pessoas mais abaladas com a tragédia do último sábado era a mãe  biológica do parlamentar, Maria do Socorro Albuquerque, de 55 anos, que  mora em Aracaju. "Ele era uma pessoa maravilhosa. Não tem nem como  descrever. Tudo o que eu tenho na vida eu agradeço a ele. Lembro da  última coisa que ele me disse, que se eu precisasse de um palácio, ele  me dava. Era um filho maravilhoso", declarou a mãe, chorando. 
 Alessandro  Novelino tinha 39 anos e era casado com Christianne Penedo Danin. Além  de deputado estadual, era pecuarista e empresário, dono da rede de  postos Ale. Ele tinha duas filhas, Lyandra, de 15 anos, e Alexia, de 6  anos. Lyandra, bastante emocionada, esteve sempre ao lado do corpo do  pai, do velório ao sepultamento.
 Amigos  e funcionários do deputado estadual também se emocionaram. "O  Alessandro era aquele patrão amigo, compreensivo e que não prejudicava  ninguém, mesmo sendo prejudicado. Ele sempre perdoava os outros e sempre  me ajudava. Para mim, nessa curta passagem dele, ele foi tudo", disse  Maria Antônia Santos, de 51 anos, que desde 2000 trabalhava como  secretária do parlamentar no posto Ale do Entroncamento. 
 Assessor  - José Augusto dos Santos trabalhava desde 2002 como assessor de  Alessandro Novelino e se tornou homem de confiança do parlamentar. "Tudo  era com ele. Ele era praticamente o braço direito do Novelino",  declarou o filho, Álvaro Cardoso dos Santos, de 20 anos. Casado com  Maria Luiza de Lima Cardoso, José Augusto tinha quatro filhos.
 Familiares  e amigos do assessor também estiveram na Assembleia Legislativa para  prestar as últimas homenagens a ele. Sobre o caixão, foram colocadas as  bandeiras dos seus times do coração, Clube do Remo e Flamengo. O corpo  dele foi velado e sepultado ao lado do corpo do deputado estadual. "Ele  era um exemplo de pai. Sabia dizer ‘não’ e ‘sim’ na hora certa", afirmou  Álvaro. "Só a fé em Deus mesmo para superar isso. Ele amava o emprego e  quando não estava trabalhando gostava muito de viajar para locais como  Marudá ou Mosqueiro. Gostava muito de ir para o interior", completou.
 Amiga  de José Augusto, a comerciante Simone Noronha Mota, de 35 anos, também  acompanhou o sepultamento do assessor e vai guardar as lembranças  deixadas por ele. "Era uma pessoa maravilhosa, que tinha muito sucesso  pela frente e muito querido por todos. Ele era muito alegre", afirmou.
 Ainda  na Assembleia Legislativa, a missa de corpo presente foi celebrada pelo  padre Eloy Wayth. "Certamente é mais um momento difícil na história  dessas famílias, em especial do senhor Bira (Ubiratan Novelino). O que a  gente precisa é do conforto de Deus nesse momento", declarou.
 Após velório, corpo segue para o Amapá
 O  piloto Roberto Figueiredo, de 48 anos, que também morreu no acidente  aéreo do último sábado, teve o corpo velado ontem de manhã na sede do  Aero Clube, em Belém. Roberto pilotava o avião bimotor modelo Seneca e  prefixo PT-LAB, de propriedade de Novelino. Durante o velório, o  presidente do Aero Clube, Paulo Rodrigues, disse que Roberto era um  profissional experiente, que possuía 8 mil horas de voo acumuladas em 20  anos de profissão. O corpo seguiu de avião, às 9h30, para ser enterrado  em Macapá (AP), onde Roberto nasceu. Consternados, os parentes do  piloto, que era casado e tinha uma filha, não conversaram com a  imprensa. 
 Paulo  Rodrigues confirmou que Roberto era piloto particular de Alessandro  Novelino. Na manhã do acidente, Roberto levava o patrão e o assessor  para a fazenda do deputado, no Acará. Paulo disse que Roberto também era  diretor do Aero Clube e que há pelo menos dez anos trabalhava como  piloto no Estado. "Eu não posso comentar os motivos do acidente, que  serão investigados pelo Seripa (Serviço Regional de Investigação e  Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), mas não acredito que a culpa tenha  sido do Roberto, que era piloto experiente. Foi um acidente crítico,  que a gente não pode chegar a um denominador comum, se foi falha humana  ou técnica, mas o tempo estava ruim para voar, nebuloso. Não havia  recomendação para não voar, mas, nesses casos, tem que haver cautela",  disse.
 Paulo  Rodrigues destacou que, há dois anos, quando a Agência Nacional de  Aviação Civil (Anac) tentou fechar a unidade de Belém, houve resistência  por parte dos aeroviários. Ele criticou a falta de fiscalização do  órgão, localizado ao lado do Aero Clube e também do Aeroporto Brigadeiro  Protásio de Oliveira, onde operam aeronaves de pequeno porte sob a  administração da Infraero.
 "A Anac aparece para  fiscalizar as aeronaves, as oficinas e as empresas de táxi aéreo uma ou  duas vezes no ano. O grande número de acidentes é surpreendente. É  preciso uma providência urgente das autoridades", disse. "Em termos de  pousos e decolagens de aeronaves de pequeno porte, calculo que seja (o  aeroporto Brigadeiro Protásio de Oliveira) um dos mais movimentados do  Brasil".
 Político de santarém assumirá vaga
 Com a  morte de Alessandro Novelino, quem assume a vaga deixada pelo  parlamentar na Assembleia Legislativa é o vereador de Santarém Nélio  Aguiar, também do PMN. Nas eleições de 2010, Nélio teve 19.151 votos.  Presidente da Assembleia, o deputado estadual Manoel Pioneiro declarou  que ao longo da semana a Casa deve prestar homenagens ao parlamentar  morto no último sábado. 
 "Mas  nós estamos, ainda, tentando entender muita coisa. O Pará perdeu um  grande parceiro. O Alessandro deixou de ser filho só do Bira, para ser  filho de vários outros pais do Estado. Deixou de ser irmão só de seus  irmãos, para ter vários outros irmãos no Estado. Ele foi um grande  parceiro e fez muita coisa pelo Pará. E como empresário estamos perdendo  um grande empreendedor, que gerou vários empregos e renda no Estado",  enfatizou. 
 Novelino  iniciou sua carreira política há dez anos, pelo PL (Partido Liberal), e  estava em seu terceiro mandato como deputado estadual. Nas últimas  eleições, já no PMN, foi eleito com 23 mil votos. Ele cogitava a  possibilidade de se candidatar à Prefeitura de Belém nas eleições deste  ano. "Não é porque ele foi embora, mas eu ainda não vi pessoa igual. Ele  agradava das crianças aos mais velhos. É até difícil descrever. Era  cheio de planos e queria vir candidato a prefeito", revelou o autônomo  Rosivaldo Oliveira, de 40 anos, amigo que convivia há mais de três anos  com o parlamentar. 
 O  deputado estadual Raimundo Santos, do PL, lembra o início da carreira  política de Novelino. "Em 2002, ele pediu orientação política, porque  queria ser candidato. Foi quando se filiou ao PL. Depois, ele foi para  outro partido, mas continuamos amigos", disse Raimundo, que também  guarda boas lembranças do empresário. "É uma perda prematura de um homem  que, na sua juventude, conseguiu fazer muito em tão pouco tempo, tanto  como empreendedor quanto como político. Na classe empresarial, ele  sempre conseguiu se destacar, gerando emprego e renda para o Estado.  Fica seu exemplo de fidelidade à palavra empenhada, de iniciativa e de  quem fez muito em tão pouco tempo pela sociedade", declarou. 
 Anac aguarda relatório preliminar para instaurar processo
 A  assessora de imprensa do Seripa (Serviço Regional de Investigação e  Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), Andressa Lewek, informou ontem que  o órgão está abrindo investigação sobre os fatores que contribuíram  para o acidente com o avião bimotor do deputado Alessandro Novelino.  Este foi o quarto acidente envolvendo aeronaves de pequeno porte no  Pará, este mês. "O objetivo do Seripa não é apontar as causas do  acidente, mas elaborar um relatório e emitir recomendações de segurança  de voo na aviação civil e também na militar que possam prevenir novos  acidentes", explicou. Segundo ela, a investigação deverá ser concluída  entre 12 e 18 meses.
 A  apuração é demorada porque requer a análise cuidadosa de vários fatores,  como o tempo, a manutenção da aeronave e possível falha humana. Várias  pessoas serão entrevistadas e componentes do avião passarão por análises  em laboratórios. Os procedimentos de investigação, análise e  recomendações são definidos e padronizados em convenções e resoluções  internacionais. Ao final dos trabalhos, será elaborado um relatório, que  será publicado no site do Centro de Investigação e Prevenção de  Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
 O  site do Cenipa detalha que a investigação da Aeronáutica não visa  apontar culpados nem tem implicações judiciais, que são competência da  Justiça, do Ministério Público e da polícia. "A investigação de acidente  aeronáutico, em todo o mundo, é um procedimento paralelo e  independente, realizado por órgão especializado e voltado unicamente  para a prevenção de novas ocorrências e melhoria da segurança  operacional", define. A convenção afirma que todo procedimento judicial  ou administrativo para determinar culpa ou responsabilidade deve ser  independente da investigação de acidente aeronáutico.
 Em  nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que aguardará o  relatório preliminar com as informações coletadas no local do acidente e  informadas no plano de voo da aeronave para instaurar um processo  administrativo que verificará se o piloto possui habilitação e  Certificado de Capacidade Física (CCF) válidos e se a aeronave envolvida  no acidente estava com a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) e o  Certificado de Aeronavegabilidade (CA) em dia, bem como se as normas da  aviação civil estavam sendo cumpridas. A Anac informou também que, no  ano passado, os inspetores lotados em Belém fiscalizaram 343 pilotos e  278 aeronaves na região, que resultaram na notificação de 40 aeronaves,  na emissão de 16 de autos de infração para pilotos e empresas e em  quatro autos de interdição para aeronaves.
 Acidentes aéreos ocorridos este mês no Pará
 No dia 8, o  avião bimotor modelo King Air, de prefixo PT-OFD, caiu na baía de  Guajará, próximo ao píer de Val-de-Cães, com quatro passageiros. Todos  sobreviveram. A falta de combustível pode ter provocado o acidente.
  No dia 16,  o avião bimotor modelo Baron, de prefixo PT-LOU, caiu no município de  Cametá, no nordeste do Estado. O avião bateu em árvores e caiu a um  quilômetro da cabeceira da pista do aeroporto de Cametá. A aeronave  pertencia à Norte Jet Táxi Aéreo e levava malotes de dinheiro a uma  agência bancária. Todos os tripulantes morreram: o piloto Carlos Eduardo  da Silva Campos, o copiloto Carlos Eduardo Arruda Brocca e os  seguranças da empresa Prosegur Antônio Maria da Cunha Costa e Deminedsom  Monteiro Barbosa. 
  No dia 22,  o helicóptero de patrulhamento do Grupamento Aéreo do Pará (Graer) fez  um pouso forçado num terreno da BR-316, próximo à Alça Viária. Não houve  mortos. Os passageiros eram o delegado Éder Mauro, o major Bombeiro  Alessandro Zell, que pilotava a aeronave, um médico e uma enfermeira. A  aeronave teve uma pane e, em contato com o solo, se despedaçou.
  No dia 25,  o avião bimotor de modelo Seneca e prefixo PT-LAB caiu no município de  Acará, nordeste do Estado. Todas as pessoas que estavam na aeronave  morreram: o deputado estadual Alessandro Novelino, o assessor José  Augusto dos Santos e o piloto Roberto Figueiredo. As causas do acidente  ainda são desconhecidas.