Quinta-feira, 09 de Junho de 2011 | ISSN 1519-7670 - Ano 16 - nº 645 - 07/06/2011
COBERTURA DO CASO PALOCCI
Por Carlos Brickmann em 06/06/2011 na edição 645
Como não disse Churchill, a notícia é algo tão precioso que precisa ser protegida por uma muralha de boatos. Coisas sem importância também ajudam.
Note: desde que a bomba foi detonada, com a notícia sobre o apartamento do ministro Antônio Palocci, não apareceu nenhuma informação nova, relevante, sobre o tema. Há boatos sobre as empresas que teriam contratado a consultoria do então deputado, mas confirmação, mesmo, só duas: a da empreiteira WTorre e a da Amil, empresa de convênios de saúde.
Comenta-se que Palocci teria recebido R$ 1 milhão para assessorar uma grande fusão de empresas; cochicha-se o nome de dois gigantes que se uniram, mas confirmação, nada.
Foi divulgada, como se fosse coisa relevante, a informação de que o piso do banheiro do apartamento comprado por Palocci é aquecido. O apartamento do centroavante Adriano também tem piso aquecido. Não chega a ser nenhuma inovação tecnológica, não chega a custar algo inacessível. E, num apartamento daquele preço, piso aquecido é tão normal como ar condicionado.
Outra informação que parece relevante, mas talvez não seja: o apartamento em que Palocci mora de aluguel pertence a uma empresa que, por sua vez, tem como proprietários pessoas muito pobres, com rendimentos mensais inferiores a R$ 800. OK, é esquisito; mas este colunista não conhece ninguém que, ao alugar um imóvel numa imobiliária, levante a ficha cadastral inteira dos proprietários.
Não teria lógica. Normalmente é a imobiliária que levanta o cadastro de quem quer alugar o imóvel e o leva ao proprietário, já analisado, para a decisão final. A informação só será relevante se for possível comprovar que o imóvel pertence efetivamente a alguém das relações do ministro, que para não aparecer usa oslaranjas. Mas isso até agora não entrou nas reportagens.
O resto é repercussão: o PT jogando Palocci às traças, o PMDB dando-lhe apoio (e muita especulação sobre os motivos que levam os peemedebistas a essa atitude), os possíveis substitutos do ministro. Os americanos perguntariam “where is the beef”, onde está a carne. E a gente só vê os acompanhamentos.
E que é que seria interessante descobrir? Primeiro, politicamente, quem disparou o tiro – só se sabe que é fogo amigo, com origem em áreas petistas que disputam o poder com Palocci. Segundo, quais os serviços oferecidos pela consultoria do deputado Palocci – menos por curiosidade, mais para certificar-se de que não se tratava de advocacia administrativa. Uma coisa é ensinar o caminho das pedras; outra é caminhar à frente, removendo obstáculos e atirando parte das pedras nos funcionários que insistirem, ô gente mais chata, em cumprir a lei. E, por pura curiosidade, por que o abrupto crescimento da receita da consultoria assim que se confirmou a vitória da candidata presidencial de Palocci e se consolidou a certeza de que ele seria novamente ministro, e dos fortes.
Claro, não pode ser uma explicação como aquela, de que os clientes que deixariam de receber os serviços contratados se apressaram em pagar o restante dos contratos. Essa é meio esquisita, meio fora de prumo. Se a empresa suspende suas atividades e por isso não entregará os serviços que combinou entregar, o normal é que o cliente suspenda o pagamento, em vez de antecipar-se e pagar tudo aquilo que comprou e não recebeu. É preciso pensar em algo mais bem elaborado (e que, definitivamente, não foi o lero-lero a que o ministro se dedicou na TV). A opinião pública pode até acreditar em alguma mentira, ou aceitá-la como mal menor, mas que não seja uma mentira tão grosseira que a faça sentir-se idiota.
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