sexta-feira, 12 de julho de 2013

Violência já matou quase duas mil pessoas no Pará



Os números são dignos de um país em guerra. De 1º janeiro até o último dia 8 deste mês, 1.980 pessoas morreram vítimas de homicídios e latrocínios no Pará. Ou seja, por dia, são registrados, em média, dez assassinatos no Estado. Dados estarrecedores que apontam que -se a violência continuar a imperar - 2013 poderá fechar com quatro mil mortes, fechando como o mais violento da história recente do Pará. 
Os números são do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp) e foram apresentados, ontem, pelo Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol), que reclama das políticas públicas de segurança do Governo Simão Jatene, que, segundo a entidade, não investe na área. “Estes dados revelam o reflexo da inércia do Estado no que se refere à Segurança Pública”, lamentou o presidente do Sindpol, Rubens Teixeira.
Os dados coletados do Sisp foram apresentados à imprensa durante entrevista coletiva. Eles apontam que somente nos oito primeiros dias do mês de julho, 81 mortes aconteceram em virtude da violência – mais de dez mortes por dia. Os homicídios foram responsáveis por 72 destes óbitos e os latrocínios (assalto seguido de morte) por nove.
Junho foi o que apresentou os piores índices, com 343 mortes provocadas pela violência. Só de homicídios os números fecharam em 332 e latrocínios, 11. Ou seja, no mês passado, o número de vítimas fatais da violência urbana fechou em 11,44 mortes por dia.
Em janeiro, que foi o segundo mês com mais registros de vítimas fatais da violência, o registro de homicídios e latrocínios somaram 333 mortes – uma média de 11,11 óbitos por dia. Em maio, o número de assassinatos chegou a 320 e março, 316.
Fevereiro e abril registraram, respectivamente, 293 e 294 mortes por homicídio e latrocínio. Foram os dois meses nos quais os dados foram menores, mas não menos preocupantes.
Para Rubens Teixeira estes dados, de maneira geral, revelam a extrema violência da qual a população paraense é vítima e comprovam que o Governo do Estado não consegue garantir a Segurança Pública. “A política de Segurança do Estado é arcaica. É uma política velha de mais de dez anos, que não acompanha os avanços da área”, disse o presidente do Sindpol. “Hoje se mata até na porta de delegacias”, frisou.
Ele também ressaltou que o efetivo da Polícia também não acompanhou o crescimento da população do Pará e voltou a fazer críticas quanto a criação das Centrais de Flagrantes que eliminam o papel das delegacias nos bairros durante a noite, domingos e feriados. 
Quando acontece alguma ocorrência nestes horários e dias, o usuário precisa ir à Central de Flagrantes registrar queixa. “O Estado não contrata, não faz concurso público e não constrói uma estrutura para a Polícia trabalhar”, disse Teixeira, ao citar que 45 municípios paraenses estão sem delegado e as delegacias não oferecem condições dignas de trabalho para os servidores da Polícia Civil. “Têm colegas de trabalho que há dois meses não recebem o pagamento referente aos plantões remunerados que tiram, inclusive em dias de folga”, disse.
De acordo com o Sindpol, atualmente o número de policiais civis no Pará é de 2.400 policiais, e o ideal seria ter pelo menos 3.800. 
“Tem um concurso público acontecendo, mas ofereceu pouco mais de 600 vagas e o certame ainda está com suspeita de fraude”, denunciou. “Quem ainda reclama ou cobra seus direitos sofre retaliações e é transferido. Isto acontece, por exemplo, na Divisão de Homicídios”, denunciou.
O efetivo insuficiente atrapalha, inclusive, o andamento das investigações destes casos de homicídios e latrocínios, uma vez que a Divisão de Homicídios – que está sobrecarregada – faz o levantamento dos crimes e quando encaminha paras as delegacias dos bairros os inquéritos ficam parados porque não há policiais suficientes para dar continuidade e capturar os acusados.
Embora os números apresentados pelo Sindpol sejam do Sisp, a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) informou que não considera como oficiais os dados apresentados pelo sindicato. Por telefone, a assessoria de imprensa informou que os números estão sendo sistematizados pela Secretaria e serão apresentados durante uma coletiva de imprensa – ainda sem data marcada para acontecer. O que significa que a violência pode ser bem maior.
Nem a Praça Batista Campos está à salvo
A sensação de insegurança é cada vez maior entre os frequentadores da Praça Batista Campos, em Belém. O local, que é um dos mais conhecidos pontos turísticos e espaço de lazer e atividades físicas da cidade, tem sido o cenário escolhido pelos bandidos para praticar assaltos e furtos a qualquer hora do dia ou da noite. 
As vítimas preferenciais são as pessoas que utilizam o espaço para praticar atividades ou simplesmente sentar e apreciar a paisagem. Nesta época do ano, em que boa parte dos moradores da área viajam de férias, o local fica mais propício a ação dos bandidos que utilizam motos e bicicletas para fugir. A praça Batista Campos possui um ponto fixo da Guarda Municipal de Belém, que dispõe de 25 guardas em escala de revezamento 24 horas – para fazer a segurança na área, juntamente com rondas da Polícia Militar.
Mesmo assim, os assaltos não deixam de acontecer e nem o tráfico de entorpecentes. Segundo um vendedor ambulante que trabalha na praça, Emerson Cruz, 39, a ação dos bandidos é rápida e eles agem sorrateiramente. “Semana passada roubaram o celular de uma senhora que estava sentada perto dos brinquedos”, disse.
Com medo de sofrer represálias da bandidagem, o vendedor prefere não entrar em detalhes ou comentar muito do assunto. “Mas aqui já foi pior, agora está mais calmo. Vejam os guardas aí no centro da praça”, apontou ele tentando cortar a entrevista, preocupado por poder estar “falando demais”.
Próximo ao coreto, uma família aproveitava a vegetação e a arquitetura da praça para fazer fotos. Sem se identificar, a mulher disse que só estava com a máquina fotográfica nas mãos porque estava próximo dos guardas municipais. 
“Estamos confiando que eles vão garantir a nossa segurança e de todos aqui. Pelo menos, enquanto eles ficam aqui ninguém sofreu nenhum ato de violência”, disse a mulher enquanto caminhava.
Apoiado em um banco na praça, o administrador Elvio Fonseca, 45, vigiava a filha que se divertia com brinquedos da praça. “Segurança não é um problema só das praças. A falta dela (de Segurança) já afeta toda a cidade de Belém”, comentou. Por isso, disse, a menina só pode brincar na praça se for acompanhada dele ou da mãe.
Elvio afirmou que sai de casa já sobressaltado, mas que tenta não passar esta sensação para a filha. “Enquanto ela brinca eu fico orando. Graças a Deus até agora não aconteceu nada”, disse.
Da guarita de um edifício em frente à praça, um porteiro que preferiu não se identificar destaca que a onda de violência na praça chega a assustá-lo. “Os horários mais perigosos são de 11h às 16h, e depois das 19h - quando o fluxo de pessoas é menor. A ação dos bandidos é rápida e na maioria das vezes descarada, pois anunciam o roubo com a arma apontada para a vítima sem se preocupar em serem reconhecidos por outras pessoas”, frisa.
De acordo com o porteiro, os criminosos costumam ficar passeando pela praça para observar quem está no local e cometer o assalto. “Quando assaltam, fogem pela Padre Eutíquio geralmente. Máquinas, bolsas, cordões e celulares são o que eles mais levam”, atentou.
No local funciona um posto fixo da Guarda Municipal, que atua ostensivamente. Os guardas não tinham autorização para dar entrevista, mas informaram que os flagrantes são feitos e os acusados são levados para a delegacia mais próxima para fazer o procedimento.
Site da Segup confirma dados 
Na página da Segup, na internet, constam os dados sobre mortes violentas referentes aos anos de 2010, 2011 e 2012; e que foram obtidos por meio do Sisp (Sistema Integrado de Segurança Pública do Pará). 
As estatísticas mostram números considerados altos e também preocupantes. Para se ter uma dimensão do problema, os 1.980 assassinatos registrados somente este ano já são mais da metade do que que foi registrado entre Janeiro e Novembro de 2012, quando 2.850 pessoas morreram vítimas de homicídio ou latrocínio.
Os registros do ano de 2012 são superiores aos do ano de 2011, que fechou com 2.662 homicídios e 131 latrocínios. Somando os dois, foram 2.793 mortes violentas, no Pará.
No ano passado, o número de latrocínios chegou a 119 registros. Este ano, de 1º de janeiro até o dia 8 de julho, já são 87 registros.
O ano de 2010 foi, até então, o mais violento com 3.301 vítimas de latrocínio e homicídios. Se a onda de violência e insegurança continuar como está, os números de ano poderão ultrapassar esta faixa e chegar próximo a quatro mil mortes até o final de 2013.
(Diário do Pará)

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